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Salvador e o Nascimento da Primeira Capital do Brasil

  • Foto do escritor: Sidney Klock
    Sidney Klock
  • 25 de nov.
  • 2 min de leitura

No dia 29 de março de 1549, desembarcava na Baía de Todos os Santos a frota de Tomé de Sousa. Sob ordens da Coroa Portuguesa, ele fundava oficialmente a cidade de Salvador, não como simples povoado, mas como coração administrativo, militar e religioso da colônia nascente. O que muitos ignoram é que essa fundação não foi apenas um ato de ocupação: foi um projeto calculado, uma fortaleza católica diante da cobiça estrangeira e um embrião de controle sobre os povos originários e os africanos escravizados que logo seriam ali desembarcados.


Vista histórica da fundação da cidade de Salvador em 1549 com arquitetura colonial portuguesa
Arte: SK

A escolha da localização não foi aleatória. A Baía oferecia abrigo natural para navios, tornando-se um ponto estratégico para a defesa da costa e o escoamento de riquezas. Mas mais que isso: Salvador nasceu como um ideal de cidade modelo, inspirada em padrões renascentistas de organização urbana. Com ruas retas, igrejas imponentes e uma rígida separação entre os espaços do poder e os da plebe, a cidade já revelava, desde sua planta, o desejo europeu de impor ordem ao “Novo Mundo”. Ali, nasciam também os primeiros traços de uma elite colonial, branca, letrada e católica.


Tomé de Sousa chegou acompanhado de padres jesuítas, entre eles Manoel da Nóbrega, cuja missão era catequizar os indígenas. A fundação de Salvador, portanto, entrelaça fé e espada. A cidade tornou-se, quase instantaneamente, um centro de irradiação da cultura europeia e da violência colonial. A escravização dos povos originários e, pouco depois, dos africanos, fez de Salvador o primeiro grande palco da dor e da resistência. Da arquitetura das igrejas ao batuque nos becos, a cidade carregaria marcas profundas do encontro, muitas vezes forçado, de mundos.


Durante mais de dois séculos, Salvador foi o epicentro do poder no Brasil. Ali foram erguidos os primeiros centros de ensino, tribunais e casas de governo. A capitalidade moldou a cidade como um símbolo: o Brasil começava sob a lógica da vigilância, da fé institucionalizada e do extrativismo. Mas Salvador também floresceu como um polo cultural único, onde o sincretismo religioso, a culinária afro-indígena e a música ancestral resistiram, se misturaram e reexistiram. Cada pedra da cidade alta ou cada canto do Pelourinho sussurra as histórias que a oficialidade tentou apagar.


Hoje, Salvador é muito mais que uma antiga capital: é um espelho do Brasil profundo. Seus contrastes, sua beleza vibrante e suas feridas abertas nos obrigam a olhar para o passado com coragem. Fundada como centro de poder, ela se reinventou como capital da ancestralidade afro-brasileira, como berço do samba-reggae, do axé e da resistência. Em 1549, nascia a cidade-fortaleza dos colonizadores. Em 2025, Salvador continua viva, não mais como submissão, mas como celebração da diversidade que a construiu.


Curiosidade


Você sabia que Salvador foi uma das primeiras cidades das Américas a adotar um traçado urbano planejado? Inspirado nas ideias renascentistas, o plano da cidade já previa áreas administrativas, religiosas e residenciais separadas, algo inédito na colônia.


Referências


  • Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN)

  • Fundação Gregório de Mattos

  • Biblioteca Nacional Digital – Arquivos da Coroa Portuguesa

  • Universidade Federal da Bahia (UFBA) – Departamento de História

 
 
 

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