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Romulo, Remo e o Mito que Fundou Roma

  • Foto do escritor: Sidney Klock
    Sidney Klock
  • 26 de nov.
  • 2 min de leitura

Roma não nasceu de pedra. Nasceu de sangue, abandono e sobrevivência. Foi parida por uma loba e alimentada por uma lenda que atravessou milênios. No coração do mito que fundou um dos maiores impérios da história, pulsa a história de dois irmãos, Rômulo e Remo, gêmeos destinados à glória e ao fratricídio. Antes de existirem templos, legiões e senadores, havia um berço improvisado às margens do Tibre e uma loba faminta que, em vez de devorar, amamentou.


loba capitolina amamentando Rômulo e Remo, símbolo da origem de Roma
Arte: SK

A origem desse mito remonta à Roma arcaica, mas foi moldada politicamente ao longo dos séculos. De acordo com a tradição, os irmãos eram filhos de Reia Sílvia, uma vestal estuprada por Marte, o deus da guerra. O nascimento de Rômulo e Remo desafiava o trono de Alba Longa, governado por Amúlio, que mandou afogá-los. Mas o destino, guiado por correntes divinas, os levou ao colo da loba Luperca. Criados por pastores, eles cresceram fortes, impetuosos, e ao descobrir sua linhagem real, tomaram vingança contra o usurpador.


A fundação de Roma por Rômulo em 753 a.C. foi, paradoxalmente, um ato de destruição: ao delimitar os muros sagrados da nova cidade, Rômulo matou Remo, que os havia atravessado em desafio. O fratricídio ecoou como um presságio sombrio, Roma, grande e gloriosa, nasceria do sangue de seu próprio irmão. Esse gesto, ao mesmo tempo bárbaro e simbólico, foi interpretado por historiadores como Tito Lívio e Plutarco não apenas como uma tragédia pessoal, mas como a alegoria da escolha entre ordem e caos, lei e liberdade.


Ao longo dos séculos, o mito foi instrumentalizado por imperadores como Augusto, que se apresentou como novo Rômulo ao refundar Roma moral e espiritualmente. O símbolo da loba, nutridora de uma civilização feroz, passou a representar a própria essência da cidade: uma força selvagem domesticada pela missão de governar o mundo. O mito fundacional não é apenas um relato sobre o passado, mas uma lente através da qual Roma se enxergou eternamente, destinada, desde a infância, a dominar o tempo e o espaço.


Em um mundo que ainda busca narrativas identitárias para legitimar poder, o mito de Rômulo e Remo nos revela a função política da memória. Ele mostra como mitos podem ser mais duráveis que pedras e mais influentes que exércitos. Ainda hoje, a loba Capitolina está estampada em brasões, moedas e monumentos, lembrando-nos que a história muitas vezes nasce não da verdade, mas da crença partilhada em uma boa história.


Curiosidade


Uma das estátuas mais famosas da loba Capitolina, aquela que amamenta os gêmeos, por muito tempo foi atribuída à Antiguidade. Mas estudos modernos revelaram que a escultura da loba pode ter sido feita apenas na Idade Média. Os gêmeos? Esses sim foram acrescentados no século XV.


Referências


  • Tito Lívio, Ab Urbe Condita

  • Plutarco, Vidas Paralelas – Rômulo

  • Universidade de Cambridge, The Cambridge Ancient History

  • Museu Capitolino de Roma

  • G. Dumézil, Mitologia e Ideologia entre os Indo-Europeus

 
 
 

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