1831: A abdicação de Dom Pedro I
- Sidney Klock
- 7 de abr.
- 3 min de leitura
No dia 7 de abril de 1831, o Brasil viveu um dos momentos mais dramáticos de sua história política: a abdicação de Dom Pedro I. Não foi um gesto voluntário, tampouco um ato nobre de renúncia pacífica. Foi a culminância de uma crise que envolvia o descontentamento popular, a pressão de militares insatisfeitos e uma elite política dividida. Na madrugada daquele dia, pressionado por oficiais do exército e isolado no poder, Dom Pedro I assinou o documento que transferia o trono ao seu filho de apenas cinco anos — o futuro Dom Pedro II. Era o fim de um reinado turbulento e o início de um longo período de regência.

Dom Pedro I chegou ao Brasil em 1808 ainda como príncipe português. Em 1822, rompeu com Portugal e proclamou a independência, tornando-se o primeiro imperador do Brasil. No entanto, sua relação com o país nunca foi plena. Governava com traços autoritários e mantinha vínculos afetivos e políticos com Lisboa, o que o tornava suspeito aos olhos de parte da população brasileira. Os conflitos com a imprensa liberal, a dissolução da Assembleia Constituinte em 1823 e a repressão a revoltas internas — como a Confederação do Equador — minaram sua legitimidade. A gota d'água veio com a Guerra da Cisplatina e o assassinato do jornalista Líbero Badaró, que reacenderam a oposição.
As ruas do Rio de Janeiro efervesciam com protestos, e as tropas se recusavam a obedecer ordens imperiais. A elite política, em sua maioria, via com receio o retorno do absolutismo e desejava maior autonomia administrativa. O próprio Dom Pedro I, diante da crise, declarou: “Como chefe de família, sacrifico-me por meu filho e pelo Brasil”. Foi escoltado até o navio inglês Warspite e partiu para a Europa, onde voltaria a lutar pelo trono português em nome de sua filha, Maria da Glória. Sua partida não foi apenas o adeus de um monarca — foi o reconhecimento de que o Brasil já não cabia sob uma única autoridade central.
A abdicação abriu um novo capítulo: o Período Regencial, entre 1831 e 1840. Uma década marcada por revoltas regionais, lutas pela descentralização do poder e um sentimento crescente de identidade nacional. Curiosamente, o menino Dom Pedro II, que dormia quando herdou o trono, se tornaria um dos governantes mais estáveis e admirados da história do Brasil. Mas naquele momento, o país era um campo de disputas ideológicas, étnicas e territoriais, revelando que a independência política estava longe de significar coesão social.
A queda de Dom Pedro I ressoa ainda hoje como símbolo da tensão entre projeto autoritário e desejo democrático. Sua abdicação não foi só um ato individual, mas um reflexo da força das mobilizações sociais e das disputas por poder que moldam a história do Brasil. Em tempos de crise política, revisitar esse episódio nos lembra que o povo e suas instituições têm papel decisivo na redefinição do rumo da nação.
🔎 Curiosidade
Você sabia que, ao abdicar, Dom Pedro I deixou o Brasil levando consigo um relógio de bolso, uma caixa de rapé... e um livro de Shakespeare? Ele lia "Hamlet" compulsivamente — talvez se identificasse com o drama do príncipe dividido entre o dever e o coração.
📚 Referências
Biblioteca Nacional do Brasil
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro
Fausto, Boris. História do Brasil. São Paulo: Edusp.
Schwarcz, Lilia Moritz & Starling, Heloisa Murgel. Brasil: Uma Biografia. Companhia das Letras.
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