A Batalha do Passo do Rosário: O Conflito que Redefiniu a América do Sul
- Sidney Klock
- 20 de fev.
- 3 min de leitura
No dia 20 de fevereiro de 1827, teve início a Batalha do Passo do Rosário, também conhecida como Batalha de Ituzaingó. Esse embate foi um dos momentos decisivos da Guerra da Cisplatina, conflito entre o Brasil e as Províncias Unidas do Rio da Prata (atual Argentina e Uruguai). O controle sobre a Província Cisplatina, região que hoje corresponde ao Uruguai, era a grande questão em disputa. O Exército Imperial Brasileiro, sob o comando do Marquês de Barbacena, enfrentou as tropas das Províncias Unidas, lideradas pelo general Carlos María de Alvear. A batalha marcou um dos raros momentos em que as forças brasileiras sofreram um revés significativo, reforçando o impasse que levaria ao desfecho do conflito.

O contexto da Guerra da Cisplatina remonta ao processo de independência das colônias ibéricas na América. O Brasil, recém-independente, herdou da administração portuguesa o domínio sobre a Cisplatina, anexada ao território em 1821. No entanto, os habitantes da região desejavam maior autonomia e contavam com o apoio das Províncias Unidas para se separar do Império do Brasil. A batalha do Passo do Rosário foi uma das mais emblemáticas do conflito, reunindo milhares de combatentes em um campo de batalha marcado por dificuldades logísticas e estratégicas. Embora o Exército Imperial estivesse bem equipado, as falhas na comunicação e na coordenação das tropas resultaram em uma derrota tática diante das forças rivais.
Após intensos combates, os brasileiros foram obrigados a recuar, enquanto as Províncias Unidas conseguiram estabelecer momentaneamente sua posição na região. No entanto, apesar da vitória no campo de batalha, as Províncias Unidas não tinham os recursos necessários para sustentar uma guerra prolongada contra o Brasil. O conflito seguiu por mais alguns meses sem uma resolução definitiva até que, em 1828, a mediação britânica levou ao reconhecimento da independência do Uruguai, um compromisso que satisfez ambas as partes e evitou um desgaste ainda maior. A Batalha do Passo do Rosário, portanto, foi um marco que evidenciou as dificuldades militares e políticas do Brasil recém-independente, além de consolidar a geopolítica do Cone Sul.
O impacto dessa batalha reverbera até hoje na formação do Uruguai como nação independente. O Brasil, por sua vez, aprendeu lições estratégicas valiosas sobre a organização de seu exército e os desafios da projeção de poder na região. A guerra mostrou a fragilidade de um império que ainda se consolidava e que enfrentaria outras disputas internas e externas nos anos seguintes. Se por um lado a derrota foi um revés momentâneo, por outro, evitou uma guerra prolongada e abriu caminho para uma solução diplomática que redefiniu as fronteiras da América do Sul.
🔎 Curiosidade
Apesar da derrota, muitos soldados brasileiros acreditavam ter vencido a batalha, pois as tropas inimigas também se retiraram do campo após os combates. A confusão foi tanta que, por algum tempo, a vitória chegou a ser reivindicada por ambos os lados! Esse episódio demonstra como a percepção da guerra pode ser tão determinante quanto os próprios eventos no campo de batalha.
Referências
Bento, Cláudio Moreira. A Guerra do Brasil com as Províncias Unidas do Rio da Prata (1825-1828). Biblioteca do Exército, 2000.
Doratioto, Francisco. Maldita Guerra: Nova História da Guerra do Paraguai. Companhia das Letras, 2002. (Contém análises sobre conflitos platinos e seus impactos na geopolítica sul-americana).
Carvalho, José Murilo de. A Construção da Ordem: A Elite Política Imperial. Editora Campus, 1996.
Arquivos do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) sobre a Guerra da Cisplatina.
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