A Vida e Obra de Sigmund Freud
- Sidney Klock
- 6 de mai.
- 3 min de leitura
Um mergulho sensível na existência do homem que desvendou o que há por trás do véu da consciência.
“A voz do intelecto é baixa, mas não descansa até ser ouvida.” — Sigmund Freud
I. Introdução: A cortina entre o visível e o oculto
Imagine viver numa época em que a mente humana era um território em grande parte inexplorado. Onde a alma era ainda vista como uma entidade mística, e não como uma construção psíquica cheia de camadas. Foi nesse cenário que nasceu Sigmund Freud (1856–1939), o homem que ousou olhar para dentro com a precisão de um cirurgião e a coragem de um poeta trágico.
Fundador da psicanálise, Freud não apenas propôs uma nova ciência — ele revelou um novo mundo. Seu legado atravessa a medicina, a arte, a filosofia e a literatura como uma sombra persistente. Neste artigo, atravessamos sua vida e morte com o olhar de quem escuta um sussurro vindo das profundezas: o chamado do inconsciente.

II. Juventude: Entre Viena e os mitos da mente
Freud nasceu em Freiberg, no Império Austro-Húngaro, mas cresceu em Viena — cidade que moldaria sua sensibilidade cultural e intelectual. Filho de uma família judia, experimentou desde cedo a tensão entre tradição e progresso. Fascinado por línguas, filosofia e neurociência, formou-se em medicina em 1881, mas sua paixão era outra: os enigmas da mente.
O contato com Jean-Martin Charcot e a hipnose foi um marco. Freud passou a entender que havia forças invisíveis moldando o comportamento humano — um teatro interno onde desejos reprimidos e memórias esquecidas encenavam seus dramas silenciosos.
III. A Invenção da Psicanálise: O inconsciente ganha voz
O nascimento da psicanálise se deu em meio a controvérsias e rupturas. Junto com Josef Breuer, Freud escreveu Estudos sobre a Histeria (1895), onde surgia pela primeira vez a ideia de que sintomas físicos poderiam ter causas psíquicas inconscientes.
Mas foi com A Interpretação dos Sonhos (1900) que Freud fincou sua bandeira na história do pensamento. Nesse livro, ele afirma que os sonhos são a “via régia” para o inconsciente, abrindo um novo paradigma: a mente não é soberana em si mesma — ela é atravessada por desejos, traumas e conflitos que escapam à razão.
O Eu, o Isso e o Supereu
Sua teoria da mente dividida — com o Id (Isso) como a fonte de impulsos, o Ego como mediador e o Superego como instância moral — permanece até hoje como uma das mais influentes visões da psique humana.
A psicanálise não se limitava ao divã. Ela se estendia ao amor, à arte, à cultura, à religião.
Nada escapava ao olhar de Freud: o riso, os lapsos de linguagem, as fantasias infantis — tudo era sintoma e símbolo de algo mais profundo.
IV. Solidão, oposição e exílio
Com o tempo, Freud viu muitos de seus discípulos — como Carl Jung e Alfred Adler — se afastarem por divergências teóricas. Freud insistia na centralidade da sexualidade no psiquismo humano, enquanto outros buscavam caminhos alternativos.
Nos anos 1930, o nazismo crescia como uma doença mal diagnosticada. Judeu e intelectual, Freud foi perseguido pelo regime. Em 1938, com a ajuda de amigos e da princesa Marie Bonaparte, fugiu para Londres. Deixava para trás uma Viena tomada pelo terror e pela ignorância — a mesma cidade que um dia o viu erguer a tocha do inconsciente.
V. A Morte: um adeus consciente
Freud sofreu, nos últimos anos, de um câncer devastador na mandíbula. Submetido a inúmeras cirurgias, viveu seus últimos dias com dignidade estoica. Em setembro de 1939, com a permissão do médico e amigo Max Schur, recebeu doses letais de morfina. Morreu como viveu: lúcido, obstinado, profundamente humano.
Sua morte, no entanto, não apagou sua presença. Freud permanece vivo nos consultórios, nos livros, nas frases que repetimos sem saber de onde vêm. Ele habita os silêncios do discurso, os impulsos não confessos, os sonhos noturnos.
VI. Reflexão final: Freud e a eternidade do invisível
Freud nos ensinou que há mais em nós do que pensamos saber. Que o que não é dito grita em sintomas. Que há beleza no esforço de compreender, ainda que nunca entendamos tudo.
Amado, odiado, lido e relido, Freud não foi apenas um cientista — foi um arqueólogo da alma humana. Um construtor de espelhos escuros, onde cada um de nós pode enxergar algo de si.
Ele nos deixou a pergunta que ainda ecoa:
E se a verdadeira história da humanidade estiver escrita nos seus esquecimentos, nos seus lapsos e nas suas dores mais íntimas?
📚 Fontes
Freud, Sigmund. A Interpretação dos Sonhos. Imago Editora.
Gay, Peter. Freud: Uma Vida para o Nosso Tempo. Companhia das Letras.
Jones, Ernest. A Vida e a Obra de Sigmund Freud. Zahar.
Roudinesco, Élisabeth. Sigmund Freud em Seu Tempo e no Nosso. Zahar.
Schur, Max. Freud: Living and Dying. International Universities Press.
Standard Edition of the Complete Psychological Works of Sigmund Freud (SE), James Strachey (ed.).
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