Ayrton Senna: O Menino que Tocava o Vento
- Sidney Klock
- 21 de mar.
- 2 min de leitura
Na manhã de 21 de março de 1960, nascia um menino que aprenderia a conversar com a velocidade antes mesmo de dominar as palavras. Ayrton Senna da Silva, vindo ao mundo na efervescente cidade de São Paulo, parecia destinado a algo maior. Enquanto outras crianças se contentavam em correr descalças pelo quintal, ele já buscava entender o mistério do movimento, a delicadeza da precisão, o silêncio antes da curva perfeita. Seu primeiro kart, presente do pai, não foi apenas um brinquedo, mas uma chave que abriu portas para um universo onde gravidade e limites pareciam meros detalhes a serem vencidos.

Mas Senna não era apenas rápido; ele era intuitivo. Aos 13 anos, no Campeonato Brasileiro de Kart, enfrentou um adversário experiente que bloqueava todas as suas tentativas de ultrapassagem. De repente, Ayrton recuou, dando ao rival a falsa sensação de segurança. No instante seguinte, com um movimento que desafiava a lógica, fez uma ultrapassagem impossível. Esse era Senna: um artista da velocidade, um matemático das corridas, um poeta das pistas. Seus anos no kart não lhe deram apenas títulos, mas lhe ensinaram a sentir o asfalto como poucos.
Quando chegou à Fórmula 1, em 1984, não entrou apenas para competir. Ele parecia compreender a chuva como um velho amigo, dançando sobre o molhado enquanto outros escorregavam. No GP de Portugal de 1985, venceu sua primeira corrida com uma atuação que pareceu quase sobrenatural. Mais tarde, ao ser questionado sobre sua performance, afirmou ter sentido algo diferente, uma espécie de estado de transe, onde o carro e a pista se tornavam uma extensão do seu próprio corpo. Mas havia também o lado humano: ao encontrar um piloto acidentado, Ayrton não hesitava em parar para ajudar, como fez com Érik Comas em 1992, quando ignorou o perigo para salvar a vida do colega.
No dia 1º de maio de 1994, o mundo parou. Na curva Tamburello, Ayrton encontrou o limite que jamais procurou. Mas sua despedida não foi um fim. Sua paixão pelo Brasil, sua busca pelo impossível e sua crença inabalável na perfeição continuam vivos. A Fundação Ayrton Senna, criada em seu nome, leva educação a milhares de crianças, provando que um homem pode ir além do próprio tempo. Ayrton não foi apenas um piloto; foi um cometa. E cometas não morrem — apenas continuam a brilhar.
Curiosidade
Poucos sabem que Ayrton Senna era profundamente religioso. Ele carregava uma Bíblia no cockpit, onde lia passagens antes de cada corrida. No dia de sua morte, uma das últimas anotações que fez dizia: "Deus, o que quer que aconteça, tudo está em suas mãos."
Referências
Senna, Ayrton. "Ayrton Senna: Uma Lenda a 300 km/h". São Paulo: Instituto Ayrton Senna, 1995.
Instituto Ayrton Senna. "História e Legado de Ayrton Senna". Disponível em: senna.com
Grand Prix Archives. "The Legacy of Ayrton Senna". Londres: FIA Historical Division, 2020.
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