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Capitulações de Santa Fé e o contrato que deu início à conquista da América

  • Foto do escritor: Sidney Klock
    Sidney Klock
  • 28 de nov.
  • 3 min de leitura

No acampamento de Santa Fé, às portas de Granada recém rendida, um documento tomava forma sob a luz discreta de tendas e mesas improvisadas. Era 17 de abril de 1492. Ali, onde a poeira da guerra ainda repousava sobre as pedras, os Reis Católicos firmavam com Cristóvão Colombo um acordo que, sem alarde visível, atravessaria continentes e séculos. As Capitulações de Santa Fé erguiam um marco entre dois mundos, como se um gesto administrativo fosse capaz de abrir uma rota por onde a história inteira passaria a respirar de outro modo.


Assinatura das Capitulações de Santa Fé entre Colombo e os Reis Católicos em 1492
Arte: SK

A construção do acordo e o contexto do final da Reconquista


A assinatura ocorreu em meio ao ambiente simbólico da vitória espanhola. Granada havia sido incorporada ao reino, encerrando séculos de presença muçulmana na Península Ibérica. Esse cenário conferia às Capitulações um sentido político e espiritual: a unificação do território se projetava agora para o mar, e a expansão evangelizadora ganhava nova fronteira.O documento concedia a Colombo os títulos de Almirante do Mar Oceano, Vice-rei e Governador das terras que viesse a alcançar. Em troca, os monarcas buscavam ampliar sua presença num cenário global em que Portugal avançava pelo Atlântico, tema que também surge em nossas reflexões sobre navegações e disputas imperiais dentro da história ibérica.


O papel dos Reis Católicos e a ambição que moldou um império


Isabel de Castela e Fernando de Aragão enxergavam na expedição uma oportunidade de fortalecer o recém consolidado projeto de poder. A decisão de apoiar Colombo, mesmo após rejeições em outras cortes europeias, revelava o desejo de ampliar rotas comerciais e influência política.A concessão de amplos privilégios ao navegador fazia parte de um cálculo diplomático e estratégico: assegurar a fidelidade do homem que poderia trazer ao reino novas terras e riquezas. Essa prática se relaciona com outras políticas régias analisadas em nossos artigos sobre formação de imperiais europeias, criando um elo natural dentro da própria Sala de Leitura.


As Capitulações de Santa Fé como instrumento de autoridade e propaganda


Assinar o acordo em Santa Fé não foi gesto fortuito. A cidade se tornara símbolo da vitória cristã sobre o último reino muçulmano da Península. Levar dali a mensagem de expansão significava prolongar a narrativa da Reconquista e estendê-la além do oceano.As cópias preservadas das Capitulações revelam cláusulas que formalizavam não só direitos econômicos, mas também o propósito evangelizador atribuído à viagem. O texto serviria de base jurídica para empreendimentos posteriores, sustentando o avanço espanhol em terras desconhecidas e a formação de uma doutrina que legitimava a ocupação de espaços que a Europa passava a reivindicar.


As consequências imediatas e o impacto no mundo atlântico


Meses depois, Colombo alcançaria as Antilhas acreditando ter chegado às Índias. O encontro entre europeus e povos ameríndios inauguraria transformações profundas. Do choque cultural ao intercâmbio de plantas, metais e doenças, o mundo atlântico se tornaria palco de movimentos que modificariam geografias políticas e humanas.As Capitulações, nesse sentido, podem ser vistas como uma pedra inicial de um percurso que abriria caminho à circulação de ideias, riquezas e conflitos entre continentes, como tratamos em textos dedicados à formação do mundo moderno.


Uma leitura atual sobre o alcance histórico do tratado


Observar hoje o documento assinado em 1492 é aproximar-se de um momento em que política, fé e ambição se entrelaçaram num único gesto. O acordo, ao mesmo tempo pragmático e simbólico, ajuda a compreender como decisões pontuais moldam longos ciclos históricos. A expansão que dali nasceu não se limitou à navegação, mas ecoou em culturas, línguas e imaginários que ainda dialogam com seus desdobramentos.


Curiosidade


Colombo estava prestes a abandonar a Espanha quando recebeu a notícia da aprovação real. A intervenção decisiva veio de Luis de Santángel, tesoureiro de Castela, que ofereceu recursos próprios para viabilizar a expedição e persuadiu a rainha Isabel a autorizar o projeto.


Referências


• Instituto Cervantes, Biblioteca Digital

• Biblioteca Nacional de España

• Real Academia de la Historia

• Fernández-Armesto, Felipe, 1492: O ano do mundo novo

• Todorov, Tzvetan, A Conquista da América

 
 
 

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