Caracala, o imperador assassinado a caminho da eternidade
- Sidney Klock
- 25 de nov.
- 2 min de leitura
No dia 8 de abril de 217, o Império Romano assistia ao último suspiro de um de seus imperadores mais controversos: Marco Aurélio Antonino, conhecido como Caracala. Morto a facadas enquanto urinava à beira da estrada, sua morte parece pequena diante da magnitude de seu império, mas esconde um símbolo potente da decadência imperial. Traído por seus próprios guardas e pelo chefe da guarda pretoriana, Macrino, o assassinato de Caracala marcou o fim de uma era e o início de uma das mais instáveis fases da história de Roma. A violência que ele mesmo institucionalizou, por fim, o engoliu.

Filho de Sétimo Severo e da poderosa Júlia Domna, Caracala ascendeu ao trono ao lado do irmão Geta, que ele próprio mandaria matar dentro do palácio. Seu governo, iniciado em 198 e consolidado em 211, foi marcado por autoritarismo e populismo. Ficou famoso por conceder cidadania romana a quase todos os habitantes do Império com a Constituição Antonina de 212, medida que, embora tenha ampliado a base tributária, também diluiu a exclusividade de ser cidadão romano. Sua política favorecia soldados e marginalizava o Senado, revelando um império mais militarizado e brutal.
Caracala via em Alexandre, o Grande, seu espelho e modelo. Viajou pelo Oriente como um novo conquistador, mas sua campanha militar na Pártia mostrou-se desastrosa. Cada passo do imperador era seguido pela desconfiança dos generais, pela repulsa das elites e pela instabilidade nas fronteiras. A tensão crescia, e Macrino, o comandante da guarda pretoriana, decidiu agir antes de ser executado. Planejou e executou o assassinato, assumindo o poder logo após. O Império, mais uma vez, mergulhava num vórtice de conspirações e instabilidade.
A morte de Caracala não foi apenas o fim de um homem: foi o reflexo da podridão de um sistema onde traição, poder e sangue se confundiam. Seu legado sobrevive nas ruínas das Termas de Caracala, monumentais como sua ambição e na persistência da lógica imperialista que, de formas mais sutis, ecoa até hoje. A violência como ferramenta de poder, legitimada pelo próprio Estado, permanece viva em estruturas contemporâneas, onde lideranças instáveis ainda nascem de jogos de bastidores.
Curiosidade
Apesar de ser um dos imperadores mais impopulares, Caracala virou ícone pop em jogos e filmes por sua figura contraditória: cruel, mas carismático, visionário e paranoico. Alguns estudiosos o comparam a líderes modernos que conquistam pelo medo.
Referências
Birley, Anthony R. Septimius Severus: The African Emperor. Routledge, 2002.
Cassius Dio. Roman History. Livro 78.
Oxford Classical Dictionary, 4ª edição, Oxford University Press.



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