🌎 Dia Mundial da Água: A memória líquida do nosso futuro
- Sidney Klock
- 22 de mar.
- 2 min de leitura
No dia 22 de março, o mundo se curva diante de uma entidade silenciosa, vital e ancestral: a água. Ela não apenas mata a sede — ela molda civilizações, desenha fronteiras, inspira mitos e fundamenta religiões. O Dia Mundial da Água não é apenas um lembrete ecológico: é um chamado civilizatório. Celebrado pela primeira vez em 1993, por iniciativa da ONU, a data propõe algo mais profundo que a conservação — propõe uma reconexão com a própria essência do viver. Porque, no fim, não se trata apenas de proteger um recurso natural, mas de respeitar aquilo que nos constitui.

Durante séculos, os grandes centros urbanos nasceram às margens de rios e lagos. Do Nilo ao Tibre, do Ganges ao Amazonas, a água foi o ventre simbólico e prático do nascimento das sociedades. Mas o que antes era sagrado passou a ser explorado como um bem descartável. A Revolução Industrial e o avanço das cidades converteram rios em esgotos e oceanos em aterros. Hoje, mais de dois bilhões de pessoas vivem sem acesso a água potável — uma ferida aberta no século XXI. E o paradoxo é cruel: o planeta é azul, mas o acesso é cinzento.
A gestão da água tornou-se, assim, um campo de disputa política, econômica e ética. Governos, corporações e comunidades disputam cada gota. Em lugares como o Oriente Médio, Califórnia ou o sertão nordestino, a escassez hídrica já é fator de conflito, migração e colapso agrícola. Ao mesmo tempo, cresce a consciência sobre direitos da natureza e justiça hídrica. Povos indígenas, por exemplo, defendem uma cosmovisão em que a água tem espírito, memória e dignidade — uma ideia que desafia os paradigmas modernos de “uso” e “propriedade”.
O Brasil, que detém 12% da água doce do planeta, carrega a contradição de ser potência hídrica e, ao mesmo tempo, palco de tragédias como o rompimento de barragens, crises de abastecimento e rios morrendo por envenenamento industrial. O Dia Mundial da Água nos provoca a olhar para essa abundância como uma responsabilidade coletiva. E mais: a considerar a água como um direito humano inegociável, não como mercadoria. Afinal, o futuro será líquido — ou não será.
Celebrar a água hoje é relembrar que toda memória é fluida: ela escorre pelos vales da história e transborda nos olhos de quem ainda sonha com justiça ambiental. É também um gesto político: resistir à lógica da escassez imposta por modelos econômicos insustentáveis. Porque preservar a água é preservar o tempo — e, com ele, a chance de continuar contando nossa história.
💧 Curiosidade
Você sabia que a água que você bebe hoje pode ser a mesma que um dinossauro bebeu há 100 milhões de anos? A Terra não "cria" água nova — ela apenas a recicla incessantemente. Beber é, portanto, uma forma de tocar a eternidade.
📚 Referências
ONU Água: https://www.unwater.org
Instituto Trata Brasil: https://www.tratabrasil.org.br
Relatórios da UNESCO sobre Água e Desenvolvimento Sustentável
Agência Nacional de Águas (ANA): https://www.gov.br/ana
Comments