top of page

Dia Mundial do Meio Ambiente

  • Foto do escritor: Sidney Klock
    Sidney Klock
  • 5 de jun.
  • 4 min de leitura

Há dias em que o planeta sussurra. Outros em que ele grita.


O Dia Mundial do Meio Ambiente, celebrado em 5 de junho, não é apenas uma data no calendário das Nações Unidas. É um espelho. Um convite ao silêncio, não o silêncio da omissão, mas o da escuta. Escutar a água que já não canta. Escutar a floresta que já não dança. Escutar a terra que, sob nossos pés, carrega memórias ancestrais, mas agora range com o peso de um progresso sem alma.


Neste artigo, mergulhamos na origem e na evolução dessa data simbólica, que nasce no coração de uma era de urgências e esperanças. Mas também buscamos, entre palavras e raízes, uma compreensão mais profunda: o que significa realmente cuidar do meio ambiente? Não como uma tarefa técnica, mas como uma missão cultural, quase sagrada.


Figura humana solitária em pé sobre um solo rachado, com os pés descalços tocando a terra seca. Ao fundo, uma floresta verdejante desponta no horizonte, sob um céu que se transforma do cinza poluído para a luz dourada do amanhecer. Uma árvore brota do peito da figura, enquanto pássaros voam de suas mãos e raízes suaves envolvem seus tornozelos — símbolo de reconexão e renascimento ambiental.
Arte: SK

Quando o mundo começou a escutar a natureza


A história do Dia Mundial do Meio Ambiente começa em 1972, no auge de uma transformação global silenciosa, mas poderosa. Naquele ano, realizou-se em Estocolmo, na Suécia, a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, o primeiro grande encontro internacional focado na crise ambiental planetária.


Foi ali, entre documentos, discursos e manifestos, que nasceu a ideia de uma data anual dedicada à reflexão ecológica. O dia 5 de junho foi escolhido para marcar o início da conferência, tornando-se símbolo de uma nova consciência.


Essa conferência não apenas colocou o meio ambiente na pauta internacional; ela mudou o vocabulário da humanidade. Palavras como “sustentabilidade”, “ecossistema” e “impacto ambiental” deixaram de ser jargões científicos para se tornarem parte da linguagem política, escolar, cultural.


Na mesma ocasião, foi criado o PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente), um organismo voltado a monitorar e coordenar ações globais em defesa da natureza. Um organismo, sim. Mas também, simbolicamente, um coração coletivo pulsando pela vida na Terra.


O planeta fala em diferentes vozes


Desde 1973, o Dia Mundial do Meio Ambiente tem sido celebrado com temas anuais que variam conforme as necessidades e urgências do tempo.


Alguns exemplos marcantes:


  • 1987 – O futuro está em nossas mãos

  • 2003 – Água: dois bilhões de pessoas estão morrendo de sede

  • 2010 – Muitas espécies. Um planeta. Um futuro.

  • 2018 – Combata a poluição plástica

  • 2023 – Soluções para a poluição plástica

  • 2024 – Restauração de terras, desertificação e resiliência à seca (tema oficial)


Cada tema é uma forma de narrar o presente e provocar o futuro. É como se, a cada ano, o planeta escolhesse uma ferida específica para expor — e nos chamasse à responsabilidade de curá-la.


Cultura, memória e natureza


Muito além da ecologia técnica, o Dia Mundial do Meio Ambiente nos chama a uma ecologia da alma. A natureza não é apenas um recurso. Ela é um símbolo. Um corpo que contém todas as metáforas da existência: nascimento, morte, transformação, equilíbrio, caos e regeneração.


Cuidar da natureza é também cuidar da memória.


Nas culturas indígenas, o meio ambiente não é “externo”, mas parte da identidade. A floresta não é um “cenário”, mas um “parente”. O rio não é um bem, mas um ancestral vivo.


Na filosofia oriental, a natureza é mestra. No taoismo, o caminho do “Tao” é seguir os fluxos naturais, sem forçá-los. Na Grécia Antiga, Gaia não era uma metáfora: era uma deusa-terra, presença mítica e concreta. No cristianismo, São Francisco chamava o sol de “irmão” e a lua de “irmã”.


Em todas essas visões, cuidar do meio ambiente é uma forma de cuidar do sentido da vida.


Quando o verde encontra a criação


A luta ambiental não nasce apenas nos tratados ou ONGs. Ela floresce também na arte.


Em 1854, o chefe indígena Seattle escreveu uma carta ao presidente dos EUA que até hoje é considerada um dos textos mais belos e profundos sobre a sacralidade da terra:

“A Terra não pertence ao homem. O homem pertence à Terra.”

Na arte contemporânea, vemos movimentos como o Land Art, onde artistas usam a própria natureza como meio de expressão, criando obras efêmeras que respeitam o tempo natural de desaparecimento.


No cinema, documentários como Home, Before the Flood e A Última Floresta (com Davi Kopenawa) nos mostram paisagens ameaçadas e culturas em resistência.


Na música, artistas como Caetano Veloso, Gilberto Gil e Elza Soares eternizaram, em canções, o grito e o encanto da natureza brasileira.


Essas expressões nos lembram que a ecologia também é uma experiência estética, porque só se cuida daquilo que se ama, e só se ama verdadeiramente o que nos toca a alma.


Da devastação ao reencantamento


Hoje, o Dia Mundial do Meio Ambiente é celebrado em mais de 150 países, com milhões de ações educativas, culturais e políticas. Mas ao mesmo tempo, enfrentamos:


  • O colapso climático, com eventos extremos cada vez mais frequentes;

  • A perda de biodiversidade em ritmo acelerado;

  • A poluição dos oceanos e solos, em especial pelo plástico;

  • A crise da água, afetando bilhões de pessoas.


Frente a isso, é urgente mais do que leis ou tecnologias. É preciso reencantar a relação com o mundo.


A ecologia, para ser verdadeira, precisa ir além da salvação do planeta. Ela deve tocar nosso modo de viver, consumir, educar e desejar. Deve reconectar a humanidade com a ideia de limite, não como prisão, mas como poesia.


Conclusão


Celebrar o Dia Mundial do Meio Ambiente não é apenas lembrar de árvores ou animais. É lembrar que nós também somos natureza. Que nossos corpos são feitos da mesma água dos rios, do mesmo carbono das florestas, da mesma poeira estelar que forma as montanhas.


É preciso reaprender a escutar a Terra como quem escuta uma avó: com respeito, com amor, com reverência. Porque tudo o que está vivo, pedra, planta ou planeta, carrega uma história. E toda história esquecida é uma flor que não floresce.


Curiosidade


O primeiro país a adotar um ministério exclusivamente voltado ao meio ambiente foi o Brasil, em 1973, logo após a conferência de Estocolmo. Desde então, o país se tornou referência em biodiversidade e também em desafios ambientais, sendo palco de importantes debates globais.


Referências


  • United Nations Environment Programme (UNEP) – www.unep.org

  • Carta do Chefe Seattle (1854) – Traduções e versões comentadas

  • Silent Spring, Rachel Carson, 1962

  • A Queda do Céu, Davi Kopenawa e Bruce Albert

  • Instituto Socioambiental (ISA) – www.socioambiental.org

  • Relatórios do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas)

  • O ponto de mutação, Fritjof Capra

  • Dados oficiais da ONU sobre o Dia Mundial do Meio Ambiente – www.worldenvironmentday.global

 
 
 

Comentários


bottom of page