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Dia Nacional da Ciência e do Pesquisador Científico: História, Importância e Desafios do Brasil

  • Foto do escritor: Sidney Klock
    Sidney Klock
  • 28 de nov.
  • 4 min de leitura

A semente do futuro


No dia 8 de julho, o Brasil faz uma pausa para lembrar que o motor silencioso do seu desenvolvimento não são apenas máquinas, mas mentes. É o Dia Nacional da Ciência e do Pesquisador Científico — uma data que floresce como um tributo àqueles que, com lupa e hipótese, decifram o mundo para torná-lo mais habitável.Celebrar a ciência é celebrar a coragem de perguntar, de persistir e de imaginar. É também olhar para trás, reconhecer quem abriu trilhas e quem hoje carrega a tocha em laboratórios, universidades e campos de pesquisa.


Ilustração surreal de um jovem pesquisador brasileiro sob uma árvore feita de livros e símbolos científicos luminosos, com vaga-lumes e planetas flutuando ao redor, representando o Dia Nacional da Ciência e do Pesquisador Científico no Brasil.
Arte: SK

A origem de uma data: raízes no pós-guerra


O 8 de julho foi inscrito na história em 1948, quando um grupo visionário de cientistas fundou, em São Paulo, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Foi no auditório da Associação Paulista de Medicina que nomes como José Reis, Maurício Rocha e Silva, Paulo Sawaya e José Ribeiro do Vale deram forma ao sonho de alinhar o Brasil aos avanços científicos globais.

Essa escolha não foi casual. O mundo, saindo dos escombros da Segunda Guerra Mundial, entendia cada vez mais que a ciência era um vetor de soberania, desenvolvimento e reconstrução. Inspirada em associações como a British Association for the Advancement of Science (1831) e a American Association for the Advancement of Science (1848), a SBPC nasceu para garantir que o Brasil tivesse voz e fôlego no cenário científico internacional.

Décadas depois, duas leis consolidaram o reconhecimento: a Lei nº 10.221 (2001) instituiu o Dia Nacional da Ciência; a Lei nº 11.807 (2008) oficializou o Dia Nacional do Pesquisador Científico.


Mais que uma celebração: um compromisso social


O Dia Nacional da Ciência não é apenas uma efeméride para marcar na agenda escolar. É um lembrete de que cada vacina, cada tecnologia e cada solução para crises climáticas, pandemias ou doenças tropicais começa no invisível: na hipótese que se prova, na pesquisa que avança.

Hoje, o Brasil ocupa lugar de destaque em áreas como medicina tropical, desenvolvimento de vacinas, ciências ambientais e parasitologia. Durante a pandemia de COVID-19, institutos como o Butantan brilharam mundialmente ao desenvolver vacinas como a da dengue, com eficácia superior a 79%.

E a relevância não para nos laboratórios. Estima-se que cada 1% de aumento em investimento em pesquisa e desenvolvimento gera quase 10% de crescimento no PIB. O retorno econômico de cada real investido em ciência pode ser até oito vezes maior.


Como o Brasil celebra a ciência


A Reunião Anual da SBPC é o grande palco: um dos maiores eventos científicos da América Latina, itinerante, reunindo milhares de pesquisadores e estudantes. Já a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, realizada em outubro, mobiliza escolas, universidades e museus em mais de 1.500 municípios, democratizando o acesso ao conhecimento.

Museus, como o da Fiocruz, abrem suas portas com exposições interativas. Escolas organizam feiras de ciências, visitas a laboratórios, palestras públicas e competições que despertam vocações. Nas universidades, como USP, Unicamp e UFRJ, há um esforço constante para derrubar muros entre a ciência e o cidadão comum.


Uma comunidade resiliente — mas desafiada


Apesar de integrar o seleto grupo dos 15 países que mais publicam artigos científicos, o Brasil enfrenta uma tempestade silenciosa: o orçamento federal de ciência e tecnologia encolheu 44% nos últimos anos. O CNPq chegou a suspender pagamentos de bolsas, ameaçando a continuidade de milhares de pesquisas.

A evasão de cérebros é outra ferida: entre 3.000 e 35.000 pesquisadores brasileiros vivem no exterior, atraídos por melhores condições de trabalho. Iniciativas como o programa “Conhecimento Brasil” tentam repatriar talentos, mas especialistas alertam que a solução passa por financiamento sustentável e infraestrutura de qualidade.

Mesmo assim, a produção resiste. O Brasil forma 13.000 doutores por ano, mas ainda investe apenas 1,15% do PIB em P&D — enquanto potências como Coreia do Sul e Israel superam 4%.


Mentes que moldaram a ciência nacional


A história científica brasileira é bordada por nomes que ecoam mundo afora.Carlos Chagas (1879-1934) foi o único na história a identificar simultaneamente o patógeno, o vetor e a doença — a doença de Chagas — salvando milhões de vidas. Oswaldo Cruz erradicou surtos de febre amarela, peste bubônica e varíola no Rio de Janeiro no início do século XX. Alberto Santos-Dumont fez do céu seu campo de prova, tornando-se pioneiro da aviação.

Entre as gerações mais recentes, César Lattes ajudou a descobrir o píon, partícula fundamental na física quântica; Miguel Nicolelis avançou as interfaces cérebro-máquina, permitindo que um paciente paraplégico controlasse um exoesqueleto robótico na Copa de 2014. E Celina Turchi foi destaque global ao vincular o vírus Zika à microcefalia.


Perspectivas: que futuro queremos?


Diante dos desafios, a Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (2025-2035) propõe pilares para fortalecer o sistema de CTI, fomentar a reindustrialização baseada em inovação e impulsionar programas estratégicos — da inteligência artificial à bioeconomia.

Propostas como a PEC 31/2023 querem elevar gradualmente o investimento em P&D para 2,5% do PIB até 2033.E a Lei 177/2021 blindou o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico de novos contingenciamentos.


A chama que não se apaga


Mais que celebrar, o Dia Nacional da Ciência e do Pesquisador Científico é uma convocação. É um lembrete de que, sem apoio à pesquisa, não há futuro próspero, justo ou soberano.

A ciência é ponte entre o que somos e o que podemos ser. Cada tese defendida, cada artigo publicado, cada criança que descobre o fascínio do microscópio sustenta a esperança de que o Brasil não apenas acompanhe o mundo, mas o transforme.


Curiosidade


Você sabia? O Brasil é um dos poucos países onde uma única universidade — a USP — responde por cerca de 20% de toda a produção científica nacional. Um lembrete de que, muitas vezes, o futuro de um país cabe na sala de aula de um único campus.


Referências



 
 
 

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