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Duque de Caxias e o Último Título de Nobreza do Império do Brasil

  • Foto do escritor: Sidney Klock
    Sidney Klock
  • 25 de nov.
  • 3 min de leitura

Em 1869, no crepúsculo de uma monarquia que buscava manter sua imponência diante de um mundo em transformação, o Imperador Dom Pedro II concedeu o título de Duque de Caxias a Luís Alves de Lima e Silva. Esse gesto não foi apenas uma honra pessoal; foi um símbolo do esgotamento do modelo aristocrático brasileiro. Caxias não apenas foi o mais notório comandante do Exército Imperial, como também se tornou o último brasileiro a receber um título de duque em vida — um encerramento solene da nobreza ativa no país. A história do último duque não é apenas uma crônica de glória, mas um retrato de um sistema prestes a ruir.

Retrato histórico de Luís Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias, com uniforme militar do século XIX
Arte: SK

Filho de militar, Caxias nasceu em 1803 e se formou cedo nas fileiras do Exército, forjando sua reputação nas guerras internas que marcaram a primeira metade do século XIX. Foi o rosto da repressão de revoltas como a Balaiada, a Sabinada e a Revolução Farroupilha. Para o Império, era o “pacificador”, um arquétipo de lealdade e disciplina. Mas seu papel era duplo: enquanto garantidor da ordem, também era agente da centralização imperial, silenciando vozes regionais e esmagando os sonhos federalistas e republicanos que germinavam pelo país. O título de duque, nesse sentido, consagrava não apenas o homem, mas o modelo de Brasil que ele representava: hierárquico, conservador, militarizado.


A Guerra do Paraguai (1864–1870) seria o clímax e o esgotamento da trajetória de Caxias. Nomeado comandante em chefe, liderou campanhas decisivas, como a tomada de Assunção. Mas em 1869, exausto e em desacordo com os rumos da guerra, pediu demissão. Foi nesse mesmo ano que recebeu o título de Duque — uma recompensa imperial que, ao mesmo tempo, funcionava como homenagem e despedida. O Império elevava seu mais fiel defensor num momento em que o poder monárquico já dava sinais de desgaste irreversível. O título não era apenas nobreza; era melancolia.


Após sua morte em 1880, Caxias se tornaria figura mitificada — símbolo da estabilidade e do dever. Mas em apenas nove anos, a monarquia seria abolida e os títulos de nobreza extintos. A República não revogou sua memória, mas a reinterpretou: o Exército o consagrou como “patrono”, dando-lhe novo papel no imaginário nacional. O último duque deixou de ser o bastião do Império para se tornar uma figura trans-histórica, respeitada por regimes opostos, da monarquia à ditadura militar. Uma herança que mostra como a História, muitas vezes, se apropria de seus heróis para contar outras versões do passado.


Hoje, o Duque de Caxias é nome de cidades, ruas, monumentos e até um município inteiro no Rio de Janeiro. Sua figura vive em bronze, papel-moeda, e cerimônias militares. No entanto, o que poucos lembram é que sua ascensão como duque marca o fim de uma era. O Império recompensou um símbolo da unidade nacional justamente quando a fragmentação política e social já anunciava a queda. Ao eternizá-lo com um título que mais ninguém teria, o Brasil declarou — talvez sem querer — que a nobreza estava com os dias contados. O último duque foi também o prenúncio do primeiro suspiro da República.


Curiosidade


Embora fosse o maior nome militar de sua época, Caxias jamais tentou tomar o poder para si — ao contrário de muitos generais latino-americanos. Recusou propostas de golpe, proclamou fidelidade ao Imperador até o fim e se aposentou discretamente. Sua postura seria usada anos depois como exemplo de “lealdade institucional” por militares de diversas correntes ideológicas.


Referências


  • Barman, Roderick J. Citizen Emperor: Pedro II and the Making of Brazil, 1825–1891. Stanford University Press.

  • Kraay, Hendrik. Days of National Festivity in Rio de Janeiro, Brazil, 1823–1889. Stanford University Press.

  • Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) – Arquivos digitais.

  • Exército Brasileiro. Centro de Comunicação Social do Exército – Biografia do Duque de Caxias.

 
 
 

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