top of page

Floriano Peixoto: O Marechal de Ferro que Forjou a República Brasileira

  • Foto do escritor: Sidney Klock
    Sidney Klock
  • 28 de nov.
  • 3 min de leitura

No fim do século XIX, quando o Império do Brasil finalmente cedeu às marés do tempo, emergiu uma figura que encarnava, paradoxalmente, o silêncio da esfinge e o estrondo dos canhões: Floriano Vieira Peixoto, o segundo presidente do Brasil, eternizado como o Marechal de Ferro.


Ilustração onírica e simbólica de Floriano Peixoto: uma estátua sem rosto de um marechal ergue-se sobre uma ilha flutuante, de onde correntes mergulham no mar formando navios-fantasmas. Flores silvestres brotam de antigos canhões, uma coroa partida está semi-enterrada, e pássaros brancos voam em direção ao amanhecer. Atmosfera suave, cores pastéis, composição quadrada.
Arte: SK

O Homem Forjado na Guerra


Floriano nasceu em 1839, em Ipioca, Alagoas. De origem modesta, cresceu à sombra de um Império que respirava estabilidade, mas que, silenciosamente, acumulava fissuras. Sua formação militar e a participação decisiva na Guerra do Paraguai moldaram um homem austero, disciplinado e de coragem rara.Conta-se que ainda cadete enfrentou, sozinho, o famoso capoeirista Manduca da Praia, símbolo de sua determinação inflexível. Mas foi no campo de batalha que Floriano se tornou um nome de respeito entre os militares — promovido não por favores, mas por bravura comprovada.


O Vazio do Trono: República por Acidente


Em 1889, o Império desabou mais por inércia do que por insurreição popular. O trono ficou vazio, e a jovem República precisou de homens fortes para manter-se de pé. Floriano era um deles. Vice-presidente de Deodoro da Fonseca, tornou-se presidente quando Deodoro renunciou em meio a crises políticas.Seu governo começou sob contestação: pela Constituição, deveria haver novas eleições. Floriano ignorou os apelos, interpretando a lei a seu favor — gesto que selou sua reputação de legalista implacável.


O Batismo de Fogo: Revolta da Armada e Revolução Federalista


Dois grandes conflitos definiram sua presidência:

A Revolta da Armada (1893-1894) — liderada por almirantes insatisfeitos com a hegemonia do Exército. Navios bombardearam a Baía de Guanabara. Floriano, sem esquadra, improvisou uma “frota de papel” comprada às pressas. Reprimiu a revolta com mão de ferro.

A Revolução Federalista (1893-1895) — uma guerra civil feroz nos pampas do Sul, entre os “Maragatos” (federalistas) e os “Pica-paus” (republicanos). O terror se espalhou pela degola — prática brutal que marcou a guerra. Com o apoio de Júlio de Castilhos, Floriano esmagou os federalistas e consolidou o poder central.


A Cidade que Carrega uma Cicatriz


Pouco depois do massacre de Anhatomirim, em que cerca de 185 opositores foram executados sem julgamento, a capital de Santa Catarina, Desterro, foi rebatizada: Florianópolis — “a cidade de Floriano”.Até hoje, o nome é um lembrete: uma homenagem ou uma ferida aberta? Para muitos, é símbolo do poder absoluto inscrito no mapa.


O Florianismo: Populismo Pioneiro


Curiosamente, o homem de hábitos modestos — que pegava bonde para casa no subúrbio — tornou-se ídolo de um movimento popular ruidoso: os jacobinos, jovens republicanos radicais que viam nele o salvador da República.Sob o “Florianismo”, manifestações de rua legitimavam sua repressão. O homem silencioso se tornou, ironicamente, a voz de uma multidão.


Entre a Espada e o Voto


Quando o mandato se encerrou, Floriano recusou-se a perpetuar-se no poder — para surpresa geral. Transferiu o cargo pacificamente para Prudente de Morais, primeiro civil a presidir o país. Assim, encerrou-se a chamada República da Espada, que garantiu, pelo ferro, a sobrevivência do novo regime.


Legado Ambíguo


Para uns, Floriano foi o “Consolidador da República”, o homem que evitou a desintegração nacional. Para outros, o “Marechal de Ferro” que inaugurou a tradição de violência de Estado.A sua marca, paradoxal, ainda se reflete nos debates sobre democracia, autoritarismo e a eterna tensão entre ordem e liberdade no Brasil.


Curiosidade


Você sabia? Florianópolis ainda hoje discute se deveria retomar o nome original — Desterro — em respeito às memórias soterradas na ilha de Anhatomirim. Uma cidade inteira como cicatriz viva de um passado que insiste em não ser esquecido.


Referências


  • Mundo Educação: Segundo Reinado, Proclamação da República, Revolta da Armada

  • Brasil Escola: Contextos do Segundo Reinado e República Velha

  • CPDOC/FGV: Dossiês sobre Florianismo, Revolta da Armada

  • Museu Histórico Nacional: Fotografias de Juan Gutierrez

  • Archontology.org: Biografia detalhada de Floriano Peixoto

  • História de Alagoas: Origem do nome Florianópolis

  • Revista Illustrada: Caricaturas de Ângelo Agostini

  • SciELO e ResearchGate: Pesquisas acadêmicas sobre a imprensa e a memória republicana.

 
 
 

Comentários


bottom of page