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🌒 Hipátia de Alexandria: a última luz da Antiguidade

  • Foto do escritor: Sidney Klock
    Sidney Klock
  • 20 de abr.
  • 2 min de leitura

✨ Introdução


Em certos crepúsculos da história, a luz não desaparece de uma vez. Ela resiste nas bordas do tempo, lutando contra as sombras que se aproximam. Hipátia de Alexandria foi uma dessas luzes — não apenas uma filósofa, matemática e astrônoma, mas uma presença que desafiava as trevas com o brilho sereno do pensamento.


Em seus últimos instantes, em meio ao caos de uma cidade dividida entre fé e razão, ela não fugiu. Caminhou entre colunas quebradas como uma Atena terrena, olhando o céu enquanto a terra ruía. Não empunhava armas, mas ideias — e por isso mesmo, tornou-se alvo.

Representação artística de Hipátia de Alexandria em 415 d.C., de pé em uma rua antiga coberta de poeira, sob o céu dourado do entardecer. Ela veste uma túnica branca manchada de sangue e pó, com os cabelos negros ao vento, olhando para o alto com serenidade. Ao seu redor, ruínas greco-romanas e uma multidão dividida entre fanáticos e rostos hesitantes. Um jovem monge segura uma pedra, sem coragem de lançá-la. A luz suave e partículas no ar criam uma atmosfera trágica e poética.
Arte: SK

🧭 Quem foi Hipátia?


Nascida por volta de 355 d.C., em uma Alexandria ainda embebida do esplendor helenístico, Hipátia era filha do filósofo Teão, que a introduziu nos estudos matemáticos e astronômicos. Formada no neoplatonismo, ela misturava razão matemática com espiritualidade filosófica — buscando o eterno nas harmonias do cosmos.


Era reconhecida por sua inteligência, virtude e presença pública. Ensinava em praças e na escola de Alexandria, atraindo discípulos de diversas origens. Sua figura — uma mulher sábia em posição de destaque num mundo patriarcal — já era, por si só, revolucionária.


🌍 O mundo em transição


O século V em Alexandria era um cenário de tensão religiosa e política. O Império Romano do Oriente tornava-se cristão, e conflitos entre cristãos, judeus e pagãos se agravavam. O bispo Cirilo, uma figura complexa e poderosa, consolidava seu domínio espiritual e político na cidade.


Hipátia, por sua autoridade intelectual e relação com o prefeito romano Orestes, foi vista como obstáculo. Sua presença, símbolo de um saber antigo e racional, incomodava os que desejavam uma nova ordem baseada na ortodoxia religiosa.


Em 415 d.C., foi brutalmente assassinada por uma turba — supostamente incitada por monges ligados ao círculo de Cirilo. Diz-se que foi arrastada, desnudada, esquartejada com conchas afiadas, e seu corpo queimado.


🔥 O que morria com ela?


A morte de Hipátia não foi apenas o fim de uma vida extraordinária. Foi um símbolo.Simbolizava o colapso da convivência entre ciência, filosofia e religião — pilares que, na Antiguidade, ainda coexistiam.


Era também o declínio de Alexandria como capital do conhecimento e da tolerância. A cidade que abrigara a maior biblioteca do mundo agora via o silêncio ocupar seus corredores. E a mulher que falava com os astros foi calada em nome de um mundo novo — menos diverso, menos luminoso.


🌌 Legado


Hipátia atravessou os séculos como uma espécie de constelação fixa — apagada no tempo, mas sempre reaparecendo no céu da cultura.Foi redescoberta por racionalistas, feministas, artistas e cientistas. Transformou-se em mito e mártir, mas nunca perdeu sua essência: a de alguém que viveu para pensar, e morreu por não deixar de fazê-lo.


📜 Curiosidade


Poucos sabem, mas o nome "hipatia" (sem o H inicial, ὑπατία, do grego) deriva de "hypatos", que significa "sublime", "elevado".Ela, que buscava as alturas do cosmos, terminou elevada à eternidade.


🔎 Referências


  • Dzielska, M. (2005). Hipátia de Alexandria. São Paulo: Editora Unesp.

  • Watts, E. J. (2017). Hypatia: The Life and Legend of an Ancient Philosopher. Oxford University Press.

  • Deakin, M. A. B. (2007). Hypatia of Alexandria: Mathematician and Martyr. Prometheus Books.

  • Sócrates Escolástico. (século V). História Eclesiástica.

  • Wildberg, C. (2014). Hypatia. In Stanford Encyclopedia of Philosophy. https://plato.stanford.edu/entries/hypatia/

 
 
 

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