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O aroma que move o mundo e o legado histórico do café

  • Foto do escritor: Sidney Klock
    Sidney Klock
  • 25 de nov.
  • 2 min de leitura

No dia 14 de abril, celebramos o Dia Internacional do Café, uma homenagem ao grão que, mais do que uma bebida, tornou-se motor de encontros, revoluções e economias inteiras. O café atravessa continentes com um aroma carregado de histórias. De planta sagrada a moeda de troca, de vício burguês a símbolo de resistência operária, ele carrega em si o gosto de uma globalização muito anterior à internet. Como um ritual secular, sua presença no cotidiano é tão íntima que quase esquecemos o quanto o café moldou a história.


Rituais históricos e culturais do café ao redor do mundo
Arte: SK

Originário das montanhas da Etiópia, o café era conhecido por povos oraculares como os Omíadas e se difundiu no mundo islâmico a partir do século XV. Consumido nos qahveh khaneh, as casas de café do Império Otomano, ele ganhou reputação de bebida subversiva, inspirando debates políticos e religiosos. Sua popularização na Europa foi acompanhada pela desconfiança da Igreja, que chegou a chamá-lo de "bebida do diabo", até que o Papa Clemente VIII o provou e, encantado, o batizou. A partir daí, o café tomou os salões de Paris e as tavernas de Londres, transformando-se em combustível intelectual da modernidade.


No século XVIII, o café se converte em produto estratégico nas Américas. No Brasil, seu cultivo foi central para a economia imperial e a formação das elites rurais. Os barões do café não só construíram ferrovias e cidades, mas também sustentaram o regime escravocrata por décadas. À sombra das fazendas, ergueram-se casarões e desigualdades. Com o declínio do império e a chegada da república, o ciclo do café deixou raízes profundas na política, nos hábitos sociais e na paisagem cultural brasileira. O cheiro do café ainda ecoa nos rituais domésticos e nos intervalos do trabalho, entre xícaras, conversas e memórias.


Hoje, o café movimenta bilhões, conecta pequenos produtores e grandes corporações, e continua a provocar encontros: seja numa cafeteria hipster em Berlim, numa casa de família no interior do Maranhão ou em rituais cerimoniais na Etiópia. Ele também enfrenta desafios contemporâneos, mudanças climáticas, exploração no campo, precarização do trabalho, que exigem uma nova consciência coletiva. Celebrar o Dia Internacional do Café é também olhar criticamente para o sistema que sustenta cada gole e para o que podemos transformar a partir dele.


Ao celebrar esta data, revivemos séculos de trocas culturais, disputas econômicas e afetos compartilhados. O café é memória líquida: cada gole nos conecta a uma história viva que pulsa no cotidiano. Em um mundo cada vez mais veloz, tomar café pode ser um ato de resistência, de pausa e de conexão com nossas raízes.


Curiosidade


Você sabia que a primeira cafeteria da história foi aberta em Constantinopla em 1475, e que lá, uma mulher podia legalmente pedir o divórcio se o marido não lhe fornecesse café suficiente?


Referências


  • Museu do Café (Brasil) – www.museudocafe.org.br

  • Biblioteca Nacional da França (Gallica BnF)

  • Organização Internacional do Café (International Coffee Organization)

  • BBC History: “The dark history of coffee”

  • Pendergrast, Mark. Uncommon Grounds: The History of Coffee and How It Transformed Our World

 
 
 

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