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O dia em que um cometa virou memória: o registro do Halley em 240 a.C.

  • Foto do escritor: Sidney Klock
    Sidney Klock
  • 30 de mar.
  • 2 min de leitura

Na vastidão dos céus antigos, muito antes dos telescópios, um risco de luz cortou a noite e ficou gravado na memória dos homens. Em 240 a.C., astrônomos chineses documentaram, pela primeira vez, a passagem do cometa que séculos depois seria batizado como Halley. A observação não foi apenas uma anotação celeste: foi o início de uma longa relação entre humanidade e cosmos, marcada por fascínio, medo e ciência. Esse registro é considerado o mais antigo relato confiável da passagem do cometa, demonstrando a impressionante precisão dos cronistas astronômicos da dinastia Han.

Astrônomos chineses antigos observando o cometa Halley em 240 a.C.
Arte: SK

A fonte do registro está nos "Anais da Primavera e Outono", coletâneas de observações mantidas por astrônomos imperiais. Os chineses viam o céu como reflexo da ordem terrena – qualquer alteração entre as estrelas era prenúncio de mudança política ou social. Nesse contexto, a aparição do cometa não foi apenas um espetáculo visual, mas uma mensagem dos deuses ou do próprio Céu. O Halley, em sua dança elíptica, foi interpretado como aviso, como sinal de uma nova era que se aproximava. Mesmo sem saber seu retorno exato, aqueles observadores compreenderam sua raridade e importância.


Curiosamente, o nome “Halley” só viria quase dois milênios depois, em 1705, quando o astrônomo inglês Edmond Halley previu com sucesso o retorno do mesmo cometa com base em cálculos matemáticos e registros históricos – incluindo o de 240 a.C. Foi ele quem percebeu o padrão e uniu os pontos ao longo dos séculos. A partir disso, o cometa deixou de ser um visitante aleatório para se tornar um corpo celeste previsível. A história do Halley, portanto, é também a história do avanço do pensamento científico: de augúrios místicos à lógica das órbitas celestes.


A observação do cometa em 240 a.C. revela mais do que o surgimento de um astro: mostra a capacidade humana de registrar, interpretar e buscar padrões. Mostra que há mais de dois mil anos já existia a intuição científica, ainda que envolta em linguagem simbólica. Hoje, o Halley continua cruzando os céus a cada 75 anos, despertando a mesma admiração em gerações que se revezam sob sua trilha brilhante. Ele nos lembra que somos parte de um ciclo maior, em que o tempo, o espaço e a memória convergem.


❗ Curiosidade


O cometa Halley esteve presente em vários eventos históricos: foi visto no ano da morte de Júlio César (44 a.C.), registrado na Tapeçaria de Bayeux como presságio da conquista normanda da Inglaterra (1066) e, segundo alguns registros, até confundido com uma estrela milagrosa em tempos medievais.


🔎 Referências


 
 
 

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