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O Sangue de Júlio César e o Fim da República

  • Foto do escritor: Sidney Klock
    Sidney Klock
  • 25 de nov.
  • 2 min de leitura

Roma despertou sob um céu carregado, como se os deuses sussurrassem à cidade o presságio de um dia funesto. Em 15 de março de 44 a.C., os mármores do Senado testemunharam um dos atos mais brutais da história: o assassinato de Júlio César. No centro da Cúria de Pompeu, entre estátuas de antigos conquistadores, o ditador caiu sob as lâminas de seus assassinos, 23 golpes que não apenas rasgaram sua carne, mas também o destino da República. Entre os conjurados, um rosto conhecido: Marco Júnio Bruto, filho de sua amante Servília, a quem César teria amado como a um filho. “Até tu, Brutus?”, teriam sido suas últimas palavras, carregadas não apenas de dor, mas da amarga revelação de que a glória e a lealdade são efêmeras.


Júlio César caído no Senado, cercado por senadores com adagas ensanguentadas.
Arte: SK

Mas Roma não era mais a mesma. A cidade que nascera sobre as lendas de Rômulo e Remo crescera agora como um império sem coroa. César não se proclamara rei, mas seus atos o tornavam algo maior: um monarca sem título, um comandante sem rivais. Nomeado "ditador perpétuo", acumulava honrarias divinas e quebrava as barreiras que sustentavam a ilusão republicana. Para os conspiradores, eliminar César era restaurar a antiga ordem. Para o povo, contudo, era arrancar a esperança de um líder que lhes prometia pão, glória e justiça contra os abusos da aristocracia senatorial.


Os senadores acreditavam que, ao matar César, devolveriam a liberdade à República. Mas a lâmina da traição cortou o destino de Roma de maneira irreversível. O corpo ensanguentado do ditador não foi apenas um cadáver no mármore, foi um estandarte para seus aliados. Marco Antônio inflamou a multidão em um discurso memorável, e Otávio, herdeiro inesperado, tomou para si o legado do general caído. Em poucos anos, os assassinos de César estariam mortos, e a própria República que juravam proteger desapareceria nas sombras do novo Império.


A ironia dos Idos de Março é que eles não restauraram Roma: selaram sua transformação. Se César sonhava ser rei, foi sua morte que deu ao mundo um império. Otávio, mais astuto que qualquer senador, emergiu como Augusto, o primeiro imperador de Roma. E assim, os Idos de Março tornaram-se um símbolo do destino inescapável, um aviso de que a roda da história não pode ser parada por punhais.


Curiosidade


Júlio César planejava uma grande expedição contra os partas e sonhava conquistar terras que nem Alexandre, o Grande, alcançara. Seu assassinato não apenas mudou Roma, mas impediu uma campanha militar que poderia ter alterado para sempre o equilíbrio de poder no mundo antigo.


Referências


  • SUETÔNIO, "Vida dos Doze Césares"

  • PLUTARCO, "Vidas Paralelas: César"

  • CASSIUS DIO, "História Romana"

  • Universidade de Cambridge: "The End of the Roman Republic"

 
 
 

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