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Pocahontas, Entre Dois Mundos

  • Foto do escritor: Sidney Klock
    Sidney Klock
  • 25 de nov.
  • 2 min de leitura

Em 5 de abril de 1614, na colônia inglesa da Virgínia, a indígena Pocahontas casou-se com o colono John Rolfe. O gesto, embora envolto em simbolismos de paz e diplomacia, ocultava feridas profundas entre os nativos da Confederação Powhatan e os invasores britânicos. Pocahontas, cujo verdadeiro nome era Matoaka, foi capturada anos antes, convertida ao cristianismo e rebatizada como Rebecca. A cerimônia, longe de ser um conto de fadas, selava uma trégua instável entre mundos que jamais se compreenderam por completo. A união prometia paz, mas também marcava o início de uma perda cultural irreversível.


Retrato realista de Pocahontas vestida ao estilo do século XVII, entre o mundo nativo e o europeu.
Arte: SK

Antes de ser uma "princesa da paz", Pocahontas era filha do poderoso chefe Wahunsenacawh, líder da Confederação Powhatan. Inteligente, curiosa e politicamente astuta, ela cresceu entre rituais sagrados e estratégias tribais. Ainda adolescente, salvou o colono John Smith de uma execução – episódio controverso, cujos contornos reais ainda são debatidos por historiadores. O gesto, interpretado por alguns como rito cerimonial e por outros como intervenção pessoal, moldou sua imagem nas crônicas europeias. Mas o que significava, para uma jovem nativa, interceder pelos colonizadores?


Após sua captura em 1613, Pocahontas foi mantida como refém em Jamestown. Ali, converteu-se ao cristianismo, aprendeu inglês e foi usada como instrumento político. O casamento com Rolfe foi apresentado como um símbolo de conciliação, mas também servia aos interesses da monarquia inglesa e da Companhia de Londres. Para Rolfe, um plantador de tabaco, o enlace era estratégico: fortalecia alianças e facilitava a exportação do produto. Para os ingleses, Pocahontas virou propaganda. Levada à Inglaterra em 1616, foi exibida à corte como prova do "sucesso civilizatório". Morreu um ano depois, longe de sua terra, com apenas 21 anos.


A figura de Pocahontas atravessou os séculos romantizada, muitas vezes esvaziada de sua voz. Hollywood a eternizou como heroína apaixonada, mas a realidade é mais dura e profunda. Ela foi uma mulher deslocada, moldada pela colisão de dois mundos. Sua história nos obriga a revisitar a colonização não apenas como conquista, mas como apagamento. No século XXI, seu legado ressurge pela resistência dos povos originários, que reivindicam sua memória com dignidade. Pocahontas não foi apenas um elo entre culturas – foi uma das primeiras vítimas da diplomacia forçada.


Curiosidade


Você sabia que a linhagem de Pocahontas permanece viva? Diversos descendentes seus viveram entre a aristocracia americana, incluindo a família Randolph, da qual fazia parte... Thomas Jefferson.


Referências


 
 
 

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