Tiradentes, o mártir da liberdade brasileira que morreu por um país que ainda não existia
- Sidney Klock
- 26 de nov.
- 2 min de leitura
Antes de ser estátua, era carne. Antes de ser herói, era homem. Em um tempo em que sonhar com liberdade era uma sentença de morte, ele ousou imaginar o impossível: um Brasil livre.
Chico das boticas, tropeiro, dentista, militar, inconfidente.
Tiradentes, o nome que ecoa nos feriados, que batiza avenidas e escolas, já foi apenas Joaquim José, um entre muitos. Mas o destino fez dele um símbolo. E como todo símbolo, sua força transcende o corpo.

O homem por trás do mito
Nascido em 1746, nas Minas Gerais coloniais, Joaquim José da Silva Xavier era um homem do povo. Perdeu os pais cedo, foi criado por um padrinho e aprendeu ofícios diversos para sobreviver. Era dentista, tiradentes, como ficou conhecido, mas também tropeiro, minerador e alferes do Regimento de Dragões de Minas.
Não era nobre. Não tinha fortuna. Tinha ideias.
Inspirado pela independência dos Estados Unidos e pelos ideais iluministas que circulavam entre intelectuais da época, Tiradentes se uniu ao movimento da Inconfidência Mineira, um levante que pretendia libertar a capitania do domínio português e instaurar uma república no coração das montanhas brasileiras.
Um sonho perigoso, a Inconfidência Mineira
Em pleno século XVIII, o Brasil era apenas uma colônia espremida pela exploração portuguesa. O ouro das minas já não jorrava como antes, e a Coroa exigia o pagamento da derrama, um imposto brutal que devastava a economia local.
Nesse cenário de exaustão econômica e repressão colonial, a semente da independência começou a germinar, tímida, porém audaciosa. Não era uma revolta do povo, mas de uma elite letrada: poetas, padres, oficiais e pensadores que sonhavam com um Brasil livre. Não houve armas erguidas. Houve palavras traídas.
O movimento foi descoberto antes de acontecer. Os inconfidentes foram presos. Uns exilados. Outros perdoaram-se.Tiradentes, não.
A construção de um mártir
Diferente dos demais, Tiradentes assumiu a culpa com fervor quase religioso. Talvez por convicção. Talvez por estratégia. Talvez por fé.
Em 21 de abril de 1792, foi enforcado no Rio de Janeiro. Seu corpo, esquartejado, foi espalhado pelas estradas de Minas, como exemplo e advertência. A cabeça ficou exposta em Vila Rica (atual Ouro Preto). Morto, tornou-se presença. Silenciado, tornou-se voz.
A Coroa quis apagar um homem. Mas criou um mártir.
Do silêncio ao símbolo, o nascimento do herói
Curiosamente, Tiradentes só se tornaria um verdadeiro herói nacional quase cem anos depois, durante a República. Seu rosto foi retratado como o de Cristo. Sua imagem, purificada e politizada, virou estandarte de civismo. A memória foi moldada para servir, como toda memória oficial.
Mas o verdadeiro poder de Tiradentes não está apenas nos livros de história. Está no símbolo que habita o inconsciente coletivo: o de alguém que deu a vida por uma ideia.
E ideias, como ele provou, não se matam.
Curiosidade
Tiradentes morreu sem jamais ver o Brasil livre.
Mas foi justamente por isso que se tornou eterno.
Hoje, sua história ainda nos pergunta em silêncio:
Por quais ideias ainda estamos dispostos a lutar, mesmo sem garantias de vitória?
Referências
LOUREIRO, Eliane. Tiradentes: a construção do herói nacional. Ed. Brasiliana.
SCHWARCZ, Lilia Moritz. As Barbas do Imperador.
Biblioteca Nacional Digital, acervo histórico sobre a Inconfidência Mineira.



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