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Às Vésperas da Maratona de Porto Alegre: Quando Eu Ainda Não Corro, Mas Já Estou Lá

  • Foto do escritor: Sidney Klock
    Sidney Klock
  • há 7 dias
  • 2 min de leitura
Por mim, alma que treme antes de voar

Hoje é sexta-feira. E amanhã… amanhã eu não corro. Amanhã eu assisto. Eu aplaudo. Eu grito nomes desconhecidos. Eu ergo cartazes invisíveis com as palavras “vai” e “segue” escritas no peito.


Amanhã eu sou multidão. Amanhã eu sou estrada.


Mas no domingo… Ah, no domingo, eu estarei lá.


Na linha de largada. Pela oitava vez. Ou pela primeira, porque toda maratona é, de algum modo, a primeira.


Representação poética das ruas de Porto Alegre ao amanhecer, vazias mas carregadas da energia de uma maratona. A luz dourada banha o asfalto coberto por pétalas de jacarandá, com fitas etéreas no ar sugerindo o movimento invisível dos corredores. Ao fundo, vê-se o Mercado Público e a silhueta do Guaíba envolta em névoa suave. Uma cena cinematográfica e sensível que traduz o espírito coletivo e emocional da corrida.
Arte: SK

Hoje, o corpo guarda. Mas a alma já se espalha pelas avenidas


As ruas ainda estão abertas. O asfalto ainda não foi pisado. Mas eu já estou ali.


Já me vejo cercado de gente que mal conheço, mas que me conhece como ninguém: na dor do km 32, na lágrima que escorre no km 39, na vitória silenciosa de cada passo dado.


Porto Alegre já começou a respirar em ritmo de passada. E eu, que amanhã serei plateia, já sinto o coração correr mais rápido só de imaginar o que vem.


O mais coletivo dos esportes individuais


Maratona não é solidão. Maratona é partilha. Mesmo quando não se troca uma palavra.


É o único momento em que um corpo suado ao teu lado é conforto. É quando um “vamo junto” sussurrado por um estranho vira reza. É quando cada passo dado é o eco de milhares de passos ao redor.


No domingo, seremos multidão. Mas também seremos ilha. E ponte.


Porque a maratona é isso: o paradoxo mais bonito do mundo.


Amanhã eu estarei nas calçadas. Domingo, no asfalto


Amanhã estarei de olhos cheios, vendo quem corre os 5 km, os 10 km, a meia. Gente que talvez esteja começando agora. Gente que talvez esteja voltando depois de muito. Gente que corre por alguém. Ou por si.


E ali, no meio do aplauso, eu vou lembrar de mim. De quando eu era estreia, tropeço, dúvida. E também vou lembrar que ainda sou.


Porque mesmo indo para a minha oitava maratona, a incerteza ainda caminha ao meu lado. E é ela quem me dá coragem.


Domingo, eu largo. E largo tudo.


Largo os medos. Largo os pesos. Largo os padrões e os tempos. E abraço o que ficar: o vento, o suor, a cidade inteira me dizendo "vai".


Porque no domingo, eu não vou correr uma maratona. Eu vou correr a minha maratona.

E isso, só isso, já é tudo.


Que venha o que tiver que vir


Se chover, vou correr com chuva. Se doer, vou correr com dor. Se emocionar, que transborde. Se quebrar, sigo inteiro, de outras formas.


Porque eu sei o que carrego nos pés. E mais ainda, sei o que carrego no peito.


Domingo é dia de largar. E cada vez que a gente larga… alguma coisa dentro da gente finalmente chega.


Curiosidade


Sabia que o mais difícil da maratona não é o km 35? É o silêncio da véspera. Esse momento, como agora, em que o corpo repousa e o coração já está correndo.


Referências


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