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Rio de Janeiro e a Cidade Nascida da Guerra e do Mar

  • Foto do escritor: Sidney Klock
    Sidney Klock
  • 25 de nov.
  • 2 min de leitura

Havia um promontório onde a água contornava a pedra e onde a neblina da manhã se espalhava sobre a Guanabara. Foi ali que Estácio de Sá ergueu o sinal da presença portuguesa em 1º de março de 1565, escolhendo o encontro entre rochedos e marés como ponto de fundação. O lugar não surgia do vazio, mas de camadas humanas que já habitavam a região, marcadas por alianças, disputas e caminhos que se cruzavam muito antes de qualquer cidade.


Representação poética da fundação do Rio de Janeiro por Estácio de Sá, entre a guerra e o oceano.
Arte: SK

A presença francesa e a formação da França Antártica


Desde 1555, a Baía de Guanabara abrigava a experiência francesa conhecida como França Antártica, apoiada por Nicolas Durand de Villegagnon e sustentada por alianças com grupos tupinambás. O convívio orientava trocas, hospedariga e estratégias de resistência frente ao avanço português. Para a Coroa de Portugal, porém, a colônia francesa representava ameaça direta ao controle territorial e religioso da América portuguesa.

As primeiras ofensivas portuguesas, conduzidas por Mem de Sá, enfraqueceram o domínio francês, mas não o eliminaram completamente, abrindo caminho para a missão final de Estácio de Sá.


A campanha de Estácio de Sá e a fundação da cidade


A posição escolhida por Estácio à sombra do Pão de Açúcar funcionava como ponto de observação e defesa, inserida num cenário de confronto prolongado. A cidade nascia em condições militares, cercada por paliçadas e construída para resistir a ataques vindos tanto do mar quanto da mata.

Entre 1565 e 1567, sucessivas investidas portuguesas, associadas a grupos indígenas aliados, gradualmente romperam as defesas francesas e de seus parceiros tupinambás. Em janeiro de 1567, após a vitória que selou o fim da França Antártica na região, Estácio de Sá foi ferido por uma flecha, vindo a falecer poucas semanas depois. Sua morte tornou-se parte da narrativa de origem da cidade, lembrada nos relatos coloniais e nos registros posteriores.


A cidade que emergiu entre povos e temporalidades


O Rio de Janeiro se desenvolveu sobre encontros que nem sempre foram pacíficos, reunindo influências indígenas, portuguesas, africanas e europeias diversas. Cada etapa de sua formação carregou marcas de deslocamento, adaptação e negociação. A paisagem da Guanabara, com suas enseadas e morros, permaneceu como testemunha silenciosa dessas presenças, guardando rastros que ainda hoje se insinuam na história urbana.

Quando a luz da tarde se inclina sobre a baía, o cenário parece recompor vínculos entre passado e presente, como se antigos percursos continuassem a atravessar a cidade.


Curiosidade


Relatos posteriores da tradição oral fluminense associam a morte de Estácio de Sá a imagens simbólicas que surgiram na memória coletiva ao longo dos séculos, compondo parte das lendas que envolvem os primeiros anos da cidade.


Referências


• Fragoso, João e Krause, Thiago, A formação do Rio de Janeiro colonial: uma história econômica e social, Editora FGV, 2019.

• Funari, Pedro Paulo, Arqueologia da colonização: o Brasil Holandês e a França Antártica, Editora UNICAMP, 1999.

• Brasiliana USP, Biblioteca Digital, Documentos históricos sobre a França Antártica e a fundação do Rio de Janeiro.

• Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), Arquivos sobre a colonização portuguesa e a disputa pela Baía de Guanabara.

• Museu Histórico Nacional (MHN), Acervo digital e pesquisas sobre o século XVI no Brasil.

• Ferreira, Olavo Leonel, Brasil uma história, Editora Ática, 2005.


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